Para analisar o assunto a Folha SP ouviu Ronaldo
Fenômeno e o Romário. Um resumo das análises/argumentos de cada um:
Ronaldo Nazário: Ex-jogador e membro
do Comitê Organizador.
"Eu passei a minha carreira ouvindo
que nós tínhamos o melhor futebol do mundo dentro de campo, mas que estávamos
atrasados e ficávamos muito a dever fora dele. Pois é, isso já mudou. Nunca
pensei que teríamos de uma só vez, uma discussão nacional para reformar
aeroportos, melhorar a infraestrutura hoteleira, acelerar obras de mobilidade
urbana e construir ou renovar 12 estádios com padrão de qualidade
internacional. Que me desculpem os que acham o
contrário, mas não há crítica que me convença de que sediar a Copa não é um bom
negócio. Basta ver a disputa que ela provoca entre os maiores países do mundo,
incluindo aqueles que a sediaram recentemente. E o brasileiro sabe disso.
Segundo uma pesquisa da Sponsorship Intelligence, 70% dos brasileiros têm
orgulho de sediar a Copa e acreditam que ela terá um impacto positivo. Tenho
certeza de que esses números serão ainda maiores depois do evento. A Copa pode botar o Brasil de vez no mapa dos grandes
destinos. Vai mexer com a autoestima dos brasileiros, vai trazer uma mudança de
mentalidade, não para que as pessoas acreditem que é possível fazer o que
parecia exclusividade de outros países, mas para que percebam que nós já
fazemos isso e não nos damos conta. Podemos, sim, organizar a Copa. Sim, ela é
boa para o Brasil e para os brasileiros. E a Copa das Confederações em junho é
a primeira oportunidade de dar uma ótima impressão do Brasil para que a Copa do
Mundo seja um convite irrecusável. Para deixar todos com a sensação de que, se
o teste já foi bom, imagina na Copa".
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Romário Faria: Ex-jogador, deputado
estadual (PSB/RJ):
"Copa para inglês ver. O pessimismo do brasileiro é calcado em
fatos: a incapacidade dos gestores de planejar atrasou inúmeras obras e, por
tabela, encareceu em R$ 3,5 bilhões, segundo o último levantamento do TCU. Para
se ter uma ideia do que se poderia fazer com esses bilhões excedentes, vamos
fazer uma projeção. Em
2010, o presidente Lula anunciou a construção de 141 novas escolas federais de
educação profissional ao custo total de R$ 1,1 bilhão. Os R$ 3,5 bilhões
acrescidos ao valor total da Copa dariam, portanto, para construir quase 500
novas escolas técnicas no Brasil. O excesso de gastos, no entanto, não é o pior
dos cenários. O tão falado legado social para a população parece ter ficado só
no papel. Quase todas as obras de transporte estão atrasadas, a inauguração de
algumas, inclusive, já foi remarcada para somente depois do Mundial e outras
foram canceladas. 170
mil pessoas devem ser despejadas até a Copa do Mundo e a Olimpíada, para dar
lugar a intervenções urbanas para os eventos. As indenizações estão bem abaixo
do valor de mercado e, quando são oferecidas moradias, as casas ficam a até 60
km de distância do local de origem. Depois de ter rodado o mundo inteiro
e participado, in loco, de tantos mundiais, posso afirmar, com convicção, que
um país só é bom para os turistas se, antes, for bom para o seu próprio povo. Hoje,
não consigo presumir nenhum problema que inviabilize o evento, mas tenho
certeza de que os brasileiros ficarão decepcionados ao ver perdida mais uma
ótima oportunidade de tornar este país um lugar melhor para se viver".
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