José Alexandre Scheinkman, um dos mais respeitados economistas
brasileiros, dono de vasta produção acadêmica, deixará em setembro a
Universidade de Princeton, onde se tornará professor emérito, rumo à
Universidade Columbia. Algumas
considerações que extraímos da sua entrevista para a Folha SP:
FSP: Que fatores têm se
mostrado mais importantes para aumentar a produtividade do trabalho?
“Todos
os fatores têm importância, mas a evidência mostra um papel muito importante da
educação. Para cada ano a mais de educação, a produtividade do trabalhador
aumenta muito. Obviamente, um trabalhador com mais capital à sua disposição
também vai produzir mais. A saúde também é
muito importante. Nos países que têm melhores indicadores de saúde, os trabalhadores
são mais produtivos”.
FSP: Quais são as causas da
baixa eficiência da economia brasileira?
“Há
os casos de proteção setorial. As pessoas esquecem que a política setorial
dificulta a vida das indústrias que usam o insumo do setor protegido. Elas
acabam não podendo se tornar tão eficientes quanto as de países que têm acesso
ao mesmo insumo a preço relativamente menor. A outra questão importante é o
investimento em pesquisa e desenvolvimento. Ainda
não conseguimos criar uma estrutura de produção de pesquisa e desenvolvimento. Esse
assunto já foi muito bem estudado pelos economistas. A taxa de retorno, ou
seja, o aumento de produtividade gerado pelo investimento nessa área é enorme.
E isso ocorre porque quem investe em pesquisa e desenvolvimento e recebe o
retorno não é a única pessoa a lucrar”.
FSP: Por que não se investe
mais em pesquisa e desenvolvimento no Brasil?
“Um
amigo meu diz e eu concordo que um dos grandes problemas do governo brasileiro
é a incompetência. Às vezes as políticas são extremamente prejudiciais ao país
por incompetência, por exemplo, quando o governo controla o preço da gasolina.
Isso levou ao aumento do congestionamento e da poluição e prejudicou uma das
poucas tecnologias importantes criadas no Brasil, a da indústria do etanol. Não
imagino que o governo decidiu gerar essas consequências. Mas alguém teve a ‘brilhante
ideia’ de controlar a inflação mantendo o preço da gasolina estável e não
pensou nas consequências”.
FSP:Há uma estagnação no
processo de reformas importantes para o desenvolvimento econômico no Brasil?
“As reformas começam no início do
governo Collor com a abertura comercial. Depois houve um período de paralisia.
E voltaram a acontecer com Itamar, o Plano Real. Em seguida, outras reformas
importantes foram feitas. Esse processo foi freado a partir do segundo governo
Lula. Há seis, sete anos poucas coisas importantes estão sendo feitas. O
governo tem se concentrado muito mais em políticas industriais, em intervir nos
preços, em diminuir impostos setoriais e menos em resolver as grandes questões
que poderiam melhorar a eficiência no Brasil, como o investimento em infraestrutura”.
FSP: Essa letargia tem a ver
com a questão da competência?
“Há
uma questão também de ideologia. Há reformas que precisavam ser feitas, mas que
não atendiam à ideologia do governo. Outro problema importante é a baixa taxa
de poupança. Então, o governo cobra muito imposto, mas tem gastos enormes e
pouca capacidade financeira para investir, além da falta de capacidade e de
competência do setor público”.
FSP: Esses fatores explicam a
desaceleração econômica dos últimos anos?
“A desaceleração econômica dos últimos anos tem várias causas. Em
2008 e em 2009 a resposta à crise com política fiscal mais solta fazia sentido.
O que não fez sentido foi achar que isso poderia ser permanente mesmo depois de
a economia ter começado a se recuperar. A outra é o excesso de intervenção,
como o controle do preço da gasolina. Cada uma dessas intervenções, de forma
isolada, pode passar a impressão de que seus efeitos não são tão graves, mas,
se você junta todas, começa a ter efeito na economia. E isso é parte do que
estamos vendo agora. Também estamos sentindo o efeito da
desaceleração da China”.
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