Repercutimos matéria da Folha de S.Paulo de hoje (13/11), por entendê-la de utilidade pública:
Pesquisa questiona exigência de jejum para medir
colesterol
DÉBORA
MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
A exigência de doze horas de jejum antes de um exame de colesterol é
desnecessária para a maioria da população, segundo um novo estudo publicado
ontem na versão on-line da revista "Archives of Internal Medicine". O
longo período sem comer é recomendado para evitar que os alimentos ingeridos
pouco antes do teste possam influenciar os resultados, especialmente os dos
triglicérides, cujos valores também podem mudar após a ingestão de álcool. Essa
medida das gorduras no sangue é usada pela maioria dos laboratórios para
calcular o nível de LDL (colesterol "ruim") na circulação. Mas a
equipe da Universidade de Calgary, no Canadá, ao analisar dados de 210 mil
pessoas submetidas a testes de colesterol após períodos em jejum (de 1 a 16
horas), mostrou que a discrepância causada pela alimentação é pequena demais
para manter a velha recomendação. Para as medidas de colesterol total e
colesterol "bom" (HDL), a diferença máxima de resultados foi de 2%.
Para LDL, até 10% e, para triglicérides, até 20%.
PRODUÇÃO PRÓPRIA
Segundo o cardiologista Antonio Gabriele Laurinavicius, da unidade de
check-up do hospital Albert Einstein, a diferença pequena entre os resultados
se deve ao fato de que a maior parte do colesterol é produzida pelo próprio
corpo. "O fígado fabrica boa parte do colesterol, e essa produção é
constante, pouco muda com a alimentação". Os triglicérides mudam mais
porque são absorvidos no intestino após as refeições. Outro ponto a favor de
abolir o jejum é a praticidade para o paciente, que muitas vezes acaba adiando
os testes quando não consegue cumprir as exigências. Para os autores do estudo,
acabar com esse problema seria muito melhor do que ter a medida mais precisa
possível do colesterol feita em jejum. "O jejum cria dificuldades
logísticas. A maior parte das coletas é feita de manhã, o que superlota os
laboratórios, cria transtornos nos horários de trabalho dos pacientes e tudo
isso gera custos, horas perdidas em filas", afirma Laurinavicius. De
acordo com Raul Santos, chefe da unidade de lípides do Incor (Instituto do
Coração do HC da USP), especialistas americanos defendem o uso do colesterol
total e do HDL (que não variam segundo o jejum) para medir o risco cardíaco,
dispensando os triglicérides. "O uso do 'não HDL' [colesterol total
subtraído do colesterol 'bom'] é mais barato, e as medidas são precisas."Para
o patologista Nairo Sumita, assessor médico do Grupo Fleury de laboratórios,
ainda faltam evidências científicas que justifiquem uma mudança quanto ao jejum
agora, mas a tendência é reduzir as exigências para aumentar a adesão dos
pacientes aos testes. Laurinavicius, do Einstein, lembra que, com mais
pesquisas, os requisitos podem mudar, mas quem faz teste de glicemia junto c/o colesterol vai continuar seguindo o período de jejum.
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