Carioca de São Cristóvão-RJ, bairro de rica musicalidade, berço de, por exemplo, Sílvio Caldas. Nelson nasceu em 28 de outubro de 1910 e viveu intensamente. Sambista carioca, compositor, cavaquinista na juventude , mas adulto optou pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocá-lo, utilizando apenas dois dedos da mão direita. Seu pai, Brás Antônio da Silva, era músico da banda da Polícia Militar e seu tio Elvino tocava violino. Foi ainda jovem e morando na Gávea que Nelson passou a frequentar as rodas de choro. Nessa época surgiu o apelido que o acompanharia por toda a vida. Casou-se aos 20 anos com Alice Ferreira Neves, com quem teria quatro filhos e na mesma época conseguiu, graças a seu pai, um trabalho na polícia fazendo rondas noturnas a cavalo.
Foi durante estas rondas que conheceu e passou a frequentar o morro da Mangueira, onde conheceu sambistas como Cartola e Carlos Cachaça. Deixou mais de quatrocentas composições, entre elas clássicos com "A Flor e o Espinho" e "Folhas Secas", ambas em parceria com Guilherme de Brito, seu parceiro mais frequente. Nelson era totalmente desapegado de bens materiais e depois de deixar a polícia passou por dificuldades financeiras , para sobreviver, eventualmente "vendeu" parcerias de sambas que compunha sozinho. Este fato fez com que o mestre Cartola optasse por abandonar a parceria e manter a velha amizade.
(Cartola e Nelson) ( Adoniram,Billy Blanc,Cartola e Nelson)
Nelson jamais conseguiu e nem pretendeu, ganhar mais que o necessário para sobreviver. Suas canções eram feitas com extrema simplicidade e letras quase sempre remetendo a questões como o violão, mulheres, botequins e, principalmente, a morte, como em "Rugas", "Quando Eu me Chamar Saudade", "Luto", "Eu e as Flores" e "Juízo Final".”
" Nelson era um hippie. Vivia o momento. Era uma pessoa muito simples, quase infantil em alguns aspectos. Intuitivo, um violão muito bruto. E saíam melodias dignas de Tom Jobim”, declarações de Paulinho da Viola e Eugenio Gudin !
Gravaram suas músicas: Nara Leão, Elis Regina, Nelson Gonçalves, Beth Carvalho e muitos outros, mas sua obra já era reconhecida sobretudo nas vozes de Cyro Monteiro e Dalva de Oliveira, ainda nos anos 1940. O grande salto de popularidade aconteceu com o lançamento de "Folhas Secas", entregue por Nelson ainda inédita para Beth Carvalho. A partir dali, a cantora defenderia sambas do autor em quase todos os seus álbuns, totalizando hoje mais de 40 gravações. Beth coleciona ótimas histórias do Nelson, como a do sonho que ele teve, no qual morreria naquele mesmo dia, às 3h da madrugada. Ele então acordou faltando 15 minutos para as três,antecipou o relógio para meia-noite e disse:
"Nessa você não me pega!"
Com mais de 50 anos de idade, conheceria Durvalina, trinta anos mais moça que ele, sua companheira pelo resto da vida. Tornou-se mais famoso e conhecido depois dos sessenta anos, morrendo como viveu, no Rio de Janeiro, na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, aos 74 anos, vítima de um enfisema pulmonar. Num dos seus mais conhecidos e tristes sambas,
”Quando eu me chamar saudades”, Nelson escreveu:
“ Sei que amanhã, quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer, que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar,e querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão,mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar,que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim,se alguém quiser fazer por mim,
“ Sei que amanhã, quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer, que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar,e querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão,mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar,que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim,se alguém quiser fazer por mim,
Que faça agora.”
Parece que Estação Primeira de Mangueira ouviu e levou a sério o pedido do grande compositor e, no carnaval deste ano, homenageará Nelson Cavaquinho no centenário do seu nascimento:
Parece que Estação Primeira de Mangueira ouviu e levou a sério o pedido do grande compositor e, no carnaval deste ano, homenageará Nelson Cavaquinho no centenário do seu nascimento:
"O Filho Fiel, Sempre Mangueira" é o nome do enredo que a agremiação levará para a avenida!
Um pouco mais do maravilhoso poeta triste:
A Flor E O Espinho
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca flor
Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca flor
Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua
É no espelho que eu vejo a minha mágoa
A minha dor e os meus olhos rasos d´água
Eu na tua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em teu amor
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