Parece que a corrupção
tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar!
Ultimamente, faço um esforço
enorme para não perder a esperança em nosso país, em nossa capacidade de nos
comportarmos com um mínimo de respeito pelo interesse público, pelos valores
éticos, enfim, por construirmos uma nação digna deste nome. É que, a cada dia,
como você, fico sabendo de coisas que me desanimam. Parece que a corrupção
tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar. O que
desanima não são apenas as falcatruas praticadas por parlamentares, ministros,
governadores, prefeitos, juízes... O pior é que esses dados refletem uma
espécie de norma generalizada que dita o comportamento das pessoas e o próprio
funcionamento da máquina pública. Um pequeno exemplo: o precatório. Se ganhas
na Justiça uma ação que obriga o governo a te indenizar, ele está obrigado a te
pagar, não? Só que ele não paga, não cumpre a decisão judicial, e fica por isso
mesmo. A Justiça sabe que sua decisão não foi obedecida e nada faz. Pior, às
vezes esse dinheiro é apropriado por altos funcionários da própria Justiça.
Enquanto isso, as pessoas que deveriam ser indenizadas esperam 20, 30 anos, sem
nada receber. É como um assalto em via pública. Um fato corriqueiro num
país dominado p/uma casta corrupta.
E eu, burro velho, embora
sabendo disso tudo, não paro de me surpreender. Acontece de tudo, até CPI
criada pelo governo. Nunca se viu isto, já que CPI é um recurso da oposição;
quer dizer, era, porque a de Cachoeira foi invenção do Lula e seu partido, e
conta com o apoio da presidente Dilma. Isso porque, no primeiro momento, os
implicados pareciam ser apenas adversários deles, a turma do mensalão. Eis,
porém, que novas revelações envolveram gente do PT e aliados do governo, sem
falar numa empresa corrupta que é responsável por grande parte das obras do
PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal. Mas o que fazer,
agora, se a CPI já estava criada? Voltar atrás seria impossível, e nem era
preciso, uma vez que, dos 30 membros da CPI, apenas sete são da oposição, quer
dizer, não decidirão nada. Mas essas revelações punham em risco um dos
principais objetivos de Lula, que era usar a CPI para desqualificar o processo
do mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Essa intenção foi favorecida por
um fato que envolve o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem
caberá fazer a denúncia da quadrilha chefiada por José Dirceu. O PT tentou
desqualificá-lo, apresentando-o como ligado a Demóstenes Torres e, portanto, a
Cachoeira. A jogada não deu certo e, além do mais, está aí a maldita imprensa,
que insiste em criar problemas, por levar à opinião pública informações
inconvenientes. De qualquer modo, a CPI teria que ouvir Carlinhos Cachoeira, e
só Deus sabe o que ele poderia revelar. Deus e nós também: nada, como se viu. É
que ele se valeu do direito, que a Constituição lhe concede, de permanecer
calado para não produzir provas contra si mesmo. Calar, portanto, é confissão
de culpa. De qualquer modo, Carlos Cachoeira, a conselho de seu advogado, não
respondeu a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas, deixando os
parlamentares, que inutilmente o interrogavam, em situação constrangedora.
Aquela sessão da CPI, em Brasília, só pode ser comparada a um espetáculo
circense. E quem é o advogado de Cachoeira? Nada menos que o ex-ministro da
Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, que, sentado a seu lado, como um
segurança jurídico, ouvia os deputados e senadores se referirem a seu
constituinte como "bandido, chefe de uma quadrilha de ladrões".
Estava ali por vontade própria ou por imposição do cliente? Não se sabe,
mantinha-se indiferente, como se nada ouvisse. Foi por saber Cachoeira culpado
de todas aquelas falcatruas que o aconselhou a nada responder. Resta à CPI
recorrer às provas documentais. Por isso mesmo, Thomaz Bastos já pediu a
anulação delas. Cachoeira pode não ter razão, mas dinheiro não lhe falta. E o
espetáculo continua...(Fonte: FSP-03/06/2012)
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