EDITORIAL
FOLHA SP- 17/08/12: CPI COM CABRESTO:
" CPI
que deveria investigar ligações de políticos com suposto esquema de corrupção
coordenado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, transformou-se num
espetáculo vexatório para o Legislativo federal. Fabricada nas oficinas do
lulismo com o intuito de expor malfeitos de nomes da oposição, fustigar a
imprensa e dividir atenções com o julgamento dos réus do mensalão, a CPI
rendeu-se à manipulação desde o início. Com ampla maioria governista, deu-se
logo conta de que o caso poderia ter efeitos nocivos para petistas e aliados. O feitiço lançado pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, em desastrada volta à cena política após período de
enfermidade, revelou-se perigoso a ponto de seus acólitos providenciarem uma
série de restrições ao inquérito. O desejado antídoto contra o mensalão
arriscava tornar-se tóxico. Agora mais um limite é imposto, com a rejeição a
cerca de 250 requerimentos, entre os quais pedidos de quebra de sigilo bancário
de empresas de fachada que teriam sido utilizadas pela construtora Delta no
Sudeste. Ninguém ignora que nessa região se localiza o Rio Janeiro do
governador Sérgio Cabral (PMDB), amigo do governo petista e de Fernando
Cavendish, dono da construtora. De acordo com a PF, Cachoeira, preso há meses sob acusação
de explorar o jogo ilegal, seria sócio oculto da Delta, que manteve relações
com diversas autoridades e contratos com vários governos. A alegação é que a
atuação dessas empresas ultrapassa o foco da CPI, centrada nas atividades de
Cachoeira no eixo Goiás-Distrito Federal. A recusa de devassar tais contas
bancárias impedirá que parlamentares tenham acesso a dados importantes para o
questionamento do empresário Adir Assad, responsável por parte das firmas, que
deverá depor no dia 28. Com sua tarefa facilitada, quem sabe Assad não precise
repetir a cena patética dos depoentes que entram mudos e saem calados, no gozo
do direito de nada dizer que possa incriminá-los. Silêncio, aliás, é o que
desde já se espera do depoimento de Cavendish, que comparecerá à CPI no mesmo
dia 28. No dia seguinte, contudo, haverá alguma chance de a comissão obter
repercussão, com a presença do ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot e do
ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto. Acredita-se que eles
possam lançar suspeitas sobre campanhas eleitorais do PSDB e do próprio PT
--cujos líderes tratam o recurso ilegal ao caixa dois como corriqueiro.Nada de substancioso, porém, deve-se ainda esperar dessa CPI. Só mais
escárnio com o país."
®
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